Trabalho Interdisciplinar
Objetivo: Reconhecer formas de domínio de um território sobre o outro; Identificar obras africanas presentes nos museus europeus.
1. Leia a reportagem abaixo e responda ao solicitado (Questões a e b no caderno de Geo e c no caderno de Arte).
a) Nós aprendemos como a Europa buscou hegemonia
através dos mapas. Como podemos ver essa hegemonia não ocorria apenas pela produção do conhecimento, mas também através da posse. Como podemos relatar isso através do
texto lido?
b) Devolver as obras de arte ao continente africano
pelos europeus está longe de ser uma situação de romper essa hegemonia. Por quê?
c) Pesquise algumas obras de artes africanas que
estão no continente europeu.
Poucos
meses depois de tomar posse, em 2017, o presidente da França, Emmanuel Macron,
decidiu que um de seus objetivos de política externa seria relançar as ambições
de seu país na África, região que viu a China e outros emergentes assumirem
papel de liderança. Seus assessores recomendaram a ele usar um novo modelo para
reconstruir as relações com o continente: devolver parte das obras de arte
africanas pilhadas por séculos.
Macron viajou até Burkina Fasso e, num discurso numa universidade local para
800 alunos, anunciou: "Não posso aceitar que uma grande parte do
patrimônio cultural de vários países africanos esteja na França".
"Existem explicações históricas. Mas não há uma justificativa válida,
durável e incondicional. O patrimônio africano não pode estar apenas em
coleções privadas e museus europeus", afirmou.
Naquele discurso, ele declarou que o retorno de obras de arte para a África
seria uma de suas "prioridades" e, em cinco anos, haveria uma
restituição "do patrimônio africano para a África", em nome de uma
"nova relação de amizade".
Em 2016, quando Benin solicitou oficialmente que 5 mil peças roubadas por
colonizadores franceses fossem devolvidas, o Ministério das Relações Exteriores
da França alegou que tais peças faziam parte do patrimônio nacional. O governo
se baseava no édito de Moulins, de 1566, que estabelecia que toda a propriedade
do Estado era inalienável. Macron estava oferecendo uma revisão de uma política
de quase 500 anos.
Diplomatas, historiadores e negociadores consultados pela jornal O
Estado de S. Paulo, porém, sustentam que o gesto não tem apenas um valor
histórico. A meta é reconstruir a relação entre a Europa e o continente
africano e frear a onda de contratos que suas ex-colônias passaram a assinar
com China, Rússia e Índia.
Avanço
Este ano será o décimo consecutivo em que a China será o maior parceiro
comercial da África. Entre 2000 e 2015, o comércio entre Pequim e o continente
se multiplicou por sete e os chineses passaram a construir portos, estradas e
até estádios de futebol pela África. Até meados de 2018, a China havia
exportado US$ 99 bilhões ao continente e dominava 19% do mercado local. Já a
fatia dos europeus era de apenas 9%.
Ainda que a população africana questione a presença dos chineses, eles são mais
bem-vistos que os europeus, ainda marcados pelos atos do colonialismo de
séculos. Uma recente pesquisa realizada pelo Pew Research Center indicou que
mais de 70% dos entrevistados no Quênia, Nigéria, Senegal ou Tanzânia tinham
uma imagem positiva da China. Com os europeus, essa taxa era inferior a 50%.
A gigante Huawei bateu as europeias Alcatel e Ericson para ficar praticamente
com o monopólio dos celulares na Etiópia. Em Moçambique, foram os chineses da
Startimes que levaram contratos para permitir a migração das televisões do país
para o modelo digital. No pacote de canais oferecidos, foi incluída uma ampla
gama de emissoras chinesas transmitidas em inglês.
Em setembro, a Comissão Europeia anunciou uma "nova aliança" com a
África, num projeto de parcerias que prometia criar 10 milhões de empregos no
continente. Nas palavras do presidente da Comissão, Jean-Claude Juncker, essa
seria uma "parceria entre parceiros iguais". Bruxelas evitou colocar
condições como a realização de eleições, respeito aos direitos humanos e outros
critérios para liberar empréstimos.
Mas nas chancelarias dos governos europeus, a nova relação precisaria passar
por um reconhecimento de que a demanda dos africanos por recuperar parte de sua
história é legítima.
Ações
Para colocar em prática a devolução, o governo francês convidou a historiadora
francesa Bénédicte Savoy e o escritor senegalês Felwine Sarr, para conduzir um
levantamento sobre a arte africana na França e apresentar recomendações. Em
novembro, elas foram publicadas e pedem que Paris abandone as práticas de
empréstimos de peças de arte e inicie uma devolução definitiva. Ficariam nos
museus franceses apenas as obras adquiridas legitimamente.
Também seria feito um levantamento completo das 90 mil peças africanas
espalhadas pelos museus franceses. Apenas o Quai Branly, em Paris, teria cerca
de 70 mil objetos. A primeira etapa envolveria a entrega simbólica de 24 itens
aos governos do Benin, Mali e outros, frutos de uma pilhagem em 1890.
Numa segunda fase, a França entregaria a cada governo africano um inventário de
tudo o que tem e um processo de restituição seria iniciado. O estudo diz que
65% das peças hoje nos museus foram retiradas de seus lugares de origem por
força, roubo ou colonização.
"O que estamos fazendo é indo bem mais longe do que devolver obras de
arte", disse Felwine Sarr. "Esses objetos são mediadores de uma nova
relação. É um espaço tectônico e se isso se movimenta, outras partes da relação
se movimentam."
O gesto francês abriu uma caixa de Pandora pela Europa e passou a colocar
pressão sobre outros governos e museus. Alguns admitem que esse caminho não tem
volta.
Para o diretor do Museu Real de Tervuren, na Bélgica, Guido Gryseels, chegou o
momento de organizar esse processo, sob uma coordenação da Unesco. Sua instituição
conta com 120 mil objetos coletados entre o fim do século 19 e a independência
do Congo Belga, em 1960. O país chegou a se chamar Zaire e hoje é a República
Democrática do Congo.
Na Alemanha, poucos meses depois do gesto do presidente francês, dezenas de
institutos e acadêmicos alemães escreveram uma carta à chanceler Angela Merkel
pedindo que Berlim assumisse o papel de liderar os trabalhos de restituição da
arte africana. Hoje, em Berlim, o busto de Nefertite ainda é mantido em uma
sala com as condições de temperatura iguais às existentes no Egito, de onde ele
foi tirada em 1913.
Jürgen Zimmerer, historiador da Universidade de Hamburgo e principal referência
na Alemanha na pesquisa sobre o passado colonial, confirma a dimensão política
no debate sobre a arte africana. "No caso de Macron, ele busca ganhar
terreno na África e a questão cultural é um dos instrumentos", disse ao
jornal. "Trata-se de um apoio de projetos políticos na África." Em
sua avaliação, a Europa foi "lenta" para perceber o que estava
ocorrendo na África com a chegada de chineses.
Pressionado, o governo alemão também fez alguns gestos, mas considerados por
Zimmerer insuficientes. A ministra de Cultura, Monika Gruetters, sugeriu que o
mesmo modelo usado para devolver objetos dos judeus durante o nazismo fosse
adotado com a África.
Em Londres, houve um acordo na semana passada entre o governo britânico, museus
e a Nigéria, que negociavam há onze anos a devolução dos "Bronzes do
Benin", uma coleção de 700 peças no British Museum que chegaram à
Inglaterra há mais de cem anos, levadas por soldados britânicos no Reino de
Benin, em uma região hoje pertencente à Nigéria. O acordo inclui um empréstimo
das peças ao país africano, o que foi considerado um primeiro gesto do antigo
império britânico.
Mas nem todos estão de acordo. "O British Museum é um museu do mundo para
o mundo", defendeu o ex-curador da instituição Chris Spring.
"Precisamos pensar em Londres como uma cidade africana global. É muito
importante que as pessoas de descendência africana vivendo no Reino Unido ou na
Europa em geral possam ver os objetos de sua própria cultura", justificou.
Do lado africano, esse argumento é considerado inaceitável. Em um recente
evento organizado pela Unesco em Paris para tratar da questão da devolução dos
objetos, o ministro da Cultura do Senegal, Abdou Latif Coulibaly, insistiu que
a "África está pronta" para receber seus tesouros de volta.
Em Dakar, no dia 6, o governo do Senegal apresentou o Museu das Civilizações
Negras, que custou ¤ 30 milhões e estaria em condições de receber as obras que
estão na Europa. Jürgen Zimmerer destaca a ironia da situação: "O prédio
foi financiado pelo governo da China."
Disponível em: https://jornaldebrasilia.com.br/mundo/europa-aceita-devolver-obras-de-arte-africa-para-estreitar-lacos/ Acesso em: 29 mar. 2020.
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